sábado, 14 de março de 2015

Steaua Bucareste de 1986 - Preconceito não funciona

Todos sabemos que existem casos de racismo quase diários no futebol. Infelizmente, esse um mal que parece sempre se infiltrar no esporte mais democrático do mundo e em todos os lugares, desde a Premier League até a terceira divisão da Geórgia. Mas, os racistas não sabem que o preconceito na verdade acaba com o futebol.

Para ilustrar esse ponto de vista, vamos falar sobre um dos melhores times do leste europeu de todos os tempos: o Steaua Bucareste campeão da Copa dos Campeões da Europa em cima do Barcelona em 1986. 


Naquela noite em Sevilha, o Steaua jogou com seu segundo uniforme, o branco, já que o Barcelona, por estar no seu país, usou seu uniforme tradicional azul-grená. Naquela época, a Romênia estava num severo declínio econômico e seu homem forte, Niculae Ceausescu, já via as primeiras consequências que culminaram na sua queda. Seu filho mais velho, Valentin, usava os cofres do exército para fazer do Steaua um time temido na Europa.

A montagem desse time começou em 80 com as chegadas de Iovan, Gavril Bálint. e Iordanescu, que entrou como substituto estava terminando sua carreira no Steaua. Em 81, o time apenas adicionou Majearu. Em 82, Iordanescu saiu para a Grécia mas, entraram no time Belodedici (vindo da base) e o goleiro Helmuth Duckadam. Em 83, chegou Lacatus, na época melhor jogador da Romênia. O time que já era a potência do país agora contava contava com o melhor jogador do país.

Em 84, o time foi tomando sua forma final, enquanto Iordanescu se aposentava na Grécia, chegavam ao Steaua: Victor Piturca (maior artilheiro do futebol romeno), Bumbescu e Barbulescu pra terminar a zaga e, o que dizem que foi a contratação mais importante do time: László Bölöni. Um volante que jogava de cabeça em pé e cortando defesas com seus passes precisos viria transformar o Steaua não só numa dinastia mas, também colocaria o time na Europa. 

Para terminar as chegadas do ano, também veio o atacante Marin Radu, que substituiria Piturca na final. Em 85, chegou o xerife e capitão do time Balan, que, mesmo não tendo o melhor dos relacionamentos com Bölöni, foi parte fundamental para levar o Steaua à terra prometida. Em 1986, Iordanescu que auxiliar técnico da equipe foi inscrito no torneio e jogou a final ao entrar no lugar de Balan faltando quinze minutos para o fim do segundo tempo.



O torneio tinha 32 times que fariam direto um mata-mata até chegar a final em Sevilha. Apenas 31 times jogaram já que o Everton deu w/o e não apareceu para pegar o Anderlecht na primeira rodada. 

A campanha do Steaua foi estelar. Dispachou o Velje da Dinamarca empatando por 1x1 com gol de Radu fora de casa e show do ataque em casa na vitória de 4x1. Piturca, Bálint e Bölöni e Stoica balançaram a rede. Na segunda rodada, o time perdeu do Honvéd na Hungria por 1x0 mas de novo 4x1 em casa dessa vez com Piturca, logo no primeiro minuto, Lacatus, Barbulescu e Majearu. Nas quartas, empate em casa por 0x0 com o Kuusysi da Finlândia mas, na volta, Piturca deixou o seu para que o Steaua avançasse. 

Na semi-final, o Steaua perdeu a ida na Bélgica, do Anderlecht, de 1x0 com gol de Enzo Scifo. Na volta, show de Piturca que guardou dois em Bucareste com direito a mais um de Bálint. 

Na final, um 0x0 xoxo no tempo normal. Lacatus não conseguia quebrar Alexanko na ponta esquerda e Balan perdia a batalha do meio para Schuster. Belodedici e Bumbescu não deixaram Archibald e Carrasco ver a cor da bola e o jogo foi para os penaltis. Foi aí que brilhou a estrela do goleiro Helmuth Duckadam, que pegou todos os quatros pênaltis do Barcelona para trazer o título para a Romênia. 



Victor Piturca ainda terminou empatado na vice-artilharia da competição com cinco gols junto Aldo Serena, da Juventus, Ismo Lius, do Kuusysi, Lajos Détári, do Honvéd e atrás de Torbjörn Nilsson, do Goteborg que meteu três gols no Barcelona. Piturca ficou na frente de jogadores como Michel Platini, da Juventus, Pichi Alonso, do Barcelona, e Dieter Hoeness do Bayern. 

Esse time representava a Romênia inteira, um país que sempre teve tensões étnicas muito afloradas como em todo o resto da Europa. Os jogadores do Steaua representavam todos os grupos populacionais, exceto os ciganos, que compõe a população da Romênia. Duckadam era descendentes de alemães que migraram no século XIX de Stuttgart e se fixaram na região do Banat, na Romênia. Bálint e Bölöni fazem parte da segunda maior minoria da Romênia, os húngaros. Belodedici é da minoria sérvia que habita o sul da Romênia. O restante dos jogadores eram romenos também na etnia.

E essa lista só abrange os jogadores que jogaram a final. O elenco ainda tinha outro alemão de Banat em Weissenbacher e romenos em Pistol, Stoica e Stingaciu. 

Sempre que se prega a pureza racial ou étnica, o futebol sofre. É só o rompimento com essas tendências ultra-conservadoras que garante um futebol bem jogado com habilidade em todas as posições. O time do Steaua foi um grito de uma nação que não aguentava mais ficar divida. É um grito que ecoa pela Europa até os dias de hoje. 





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